segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Agora é sobre mim. E o mundo.

Ser mãe é maravilhoso, é rico, é a vida cheia, é milhões de novidades.
É também cansativo, é perder horas de sono, é casa bagunçada, é quase o fim do casamento.
É MUITA doação. E muito amor.

Em função de toda essa dedicação, arrumei emprego, larguei faculdade, meus assuntos são só fralda, creche, vacina, febre. Quando tenho tempo livre, quero morrer na frente da tv, passar horas no computador alimentando meu vício de descobrir (e comprar) barganhas daqui ou da China.

E essa semana me deparei, por duas vezes, com a mesma cena: a mãe sentada no chão, o bebê de uns 2 anos, loirinho, com as bochechas sujas, no colo. Era a mesma família, uma vez perto de casa, outra vez no centro. Na primeira vez, o garotinho dormia. E eu desviei o olhar, pra não sofrer. E saí pensando que eu podia deixar um dinheiro, mas que isso não ia resolver nada além de uma refeição. E pensando que não cabia a mim tomar atitudes paliativas, porque o buraco era muito mais embaixo.
Mas aí, no centro, vi eles de novo. Dessa vez eu estava com Arthur e Aurora. E dessa vez o garotinho estava acordado. E olhou pra Aurora, sorriu, acenou. E eu passei por eles, sorri, disse "Oi, neném". E passei. E fui embora. E não fiz nada.
No final do quarteirão, desabei. Comecei a chorar, sem caber em mim aquela confusão de sentimentos. Querer poder fazer algo e, ao mesmo tempo, achar que não tenho como ajudar. Porque, financeiramente, tem sido a conta. Uma conta alta. Viver no Rio é caro, a creche da Aurora vai custar tão caro... Aquela família viveria com o que vou pagar por mês. Mas é preciso. É preciso?
(escrevendo com uma bola na garganta)

E agora me conscientizo sobre o Ocupa Rio e tantos Ocuppy pelo mundo. E eu aqui, sem nem ter pelo que protestar. E extremamente atormentada por isso. Até porque, da última vez que fui me revoltar com o mundo, tive depressão. Eu quero agir, mas me sinto pequena. Não sei, nunca soube, dar o primeiro passo sozinha. Tenho que trabalhar, ganhar dinheiro, cuidar da Aurora. Se eu me rebelar contra esse sistema, vai faltar alguma coisa pra Aurora? Se eu jogar tudo pro alto, for morar no mato, for pensar no outro, isso funciona?

Sei que é muito injusto. Eu aqui pensando qual celular Galaxy quero ganhar de natal e o mundo do jeito que tá. Eu estou me cegando. Estou deixando acontecer. Eu NÃO quero dinheiro, não quero precisar de dinheiro. Mas eu preciso! Eu não sou hippie, não sei nem plantar, mas não me conformo com esse estilo de vida que venho levando. Não sou eu. E não é a vida que quero pra minha filha, uma criança que sei que nasceu pra ser parte da nova era, das crianças despertas.
Mas como a gente sai disso, sem sair da realidade? Eu quero o melhor pra mim, mas não vou ser feliz sabendo que o menininho das bochechas sujas está dormindo no colo da mãe, sentada no meio da calçada.


Sim, eu faço o que posso, separo o lixo, optei por fraldas de pano. Mas não quero viver nesse pouquinho e achar que já estou fazendo minha parte, sabe?
Mas cadê tempo de fazer mais? Cadê disposição? Até informação tá escassa! O movimento do Ocupa Rio tá lá há dias e só hoje fiquei sabendo. Talvez se eu estivesse envolvida num meio acadêmico, talvez se meus círculos de amigos não fossem só mães e grávidas...
Mas e agora, na prática, nessa vida que eu tenho, de funcionária pública e mãe, o que é que eu posso fazer?

Sinto o cheiro de crise existencial se aproximando... (e não é TPM)

4 comentários:

  1. Carol, querida... Eu tenho pensado muito nessas coisas ultimamente. Estou estudando turismo na UFMG, e tenho descoberto coisas muito interessantes. Mergulhada no mundo da facul, eu estava envolvida em assuntos complexos, sob a orientação de mestres. Conheci um negócio chamado Turismo de Base Comunitária e fiquei encantada, querendo mudar pra um vilarejo do interior do Brasil, pensando em ter qualidade de vida e ajudar alguma comunidade a se desenvolver pelas mãos do seu próprio povo. Mas de repente observei que "o buraco é bem mais em baixo" também! A teoria dentro do conforto da universidade é linda, diferente das dificuldades da realidade. Por exemplo, estou morando numa periferia em Contagem, perto do zoológico. Acho o lugar sujo, feio, barulhento e tudo isso me incomoda bastante. Mas o que eu consegui fazer para melhorar o lugar? Nada! Resultado: entrei em crise existencial. E coloco o coitado do marido doidão com minhas viagens. Fi-lo prometer que vai me ajudar a fazer uma "favela vegetal" numa pracinha aqui perto, um lote aberto na esquina, que foi limpo pela prefeitura há poucos dias, pois era uma montanha de lixo e entulho. A prefeitura deixou só o gramado, e com chuva, ficou lindo. Mas os meus vizinhos mal educados já estão sujando tudo de novo! Em 1º de dezembro vou juntar um mutirão e vamos plantar mudas diversas, sem projeto paisagístico só para mostrar que em vez de lixo podemos colocar flores no caminho. E isso vale para tudo na vida! Vou terminar esse texto no meu blog, aí você comenta lá (pois aqui já está enorme! rsrs)

    ResponderExcluir
  2. Parabéns pelo modo como consegue transmitir tantas emoçoes ... estou a espera da minha princesa Nina... Entrando nos 9 meses de gestação e lendo seu blog fico mais tranquila em ver q com toda certeza eu irei entrar em parafuso, a minha casa terá um tsunami, mas tudo por uma causa linda e muito gratificante ... Qdo vc fala desse papai babão vejo o reflexo do meu maridão aki... Massagem nos pés e todo esse denguinho ñ tem preço ... Obrigada pelas lindas cenas que vc faz passar em minha mente... Tudo de mais lindo p vcs... Saúde e muita, muita luz p/ sua Aurora... Abraços carinhosos ... Que papai do céu continue sempre a abençoar a sua familia ...

    ResponderExcluir
  3. Ai Carol, tb fico assim... Me sentindo pequena diante tanta coisa que tem de errado... tá tudo de cabeça pra baixo e o que podemos fazer? Dá vontade de parar o mundo e fazer todo mundo nos ouvir...
    Nesse caso da mãe com a criança na rua, acho que o que pode-se fazer é procurar algum abrigo, lugar que acolha essas pessoas necessitadas. É tentar ajudar de alguma forma... sempre tem pessoas deficientes pedindo esmola aqui em Campinas nas ruas, ou mães com filhos no colo... me aperta o peito ver as circunstâncias, mas acho que dar dinheiro só ajuda a manter essa pessoa ali, se expondo a riscos, etc. E cada um fazendo sua parte tb me soa vago, uma vez que quase ninguém faz a sua e mesmo fazendo não sentimos como suficiente. Mas o mais importante no que vc faz, é o exemplo que vc vai dar pra Aurora e o bom caráter que vc vai construir nela. Quem sabe assim, não formamos um mundo melhor no futuro?

    ResponderExcluir
  4. Meu nome deveria ser "crise existencial", entendo perfeitamente o que vc sente, talvez seja por isso que escolhi serviço social, acho que até me ajudou a lidar com esses conflitos com esse mundo maluco.

    ResponderExcluir